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domingo, 22 de setembro de 2013

O eremita e o caminhante


O caminhante, imbuído de temor e respeito, aproximou-se e aguardou que o sábio voltasse do seu passeio matinal. Como um cristal devolvendo ao sol o brilho que cega, tudo à sua volta ficou cristalino e calmo, quando o eremita regressou.
O anacoreta, saudou-o com um ligeiro abanar de cabeça, afagou os seus longos cabelos e sentou-se pausadamente num tronco seco, caído, que servia de anteparo à entrada da gruta.
Quebra-se o silêncio, quando sopra a brisa do vento por entre os ramos de folhas enverdecidas das árvores do vergel e surge o som das palavras da voz sábia: palavras proeminentes do conselho obrigatório que proclamam a autonomia e a liberdade.
- Caminhante, o teu silêncio é inquietante; precisas tranquilizar a criança que há e vive em ti. E prossegue: necessitas aproveitar as oportunidades que estão perdidas ou esquecidas e que surgem agora novamente no teu caminho - oportunidades que são cruciais para a tua vida, para o teu futuro. Resgata-as já! Desperta e lembra-te que o futuro é urgente e é agora.
O caminhante baixou o semblante e de olhar fixo no chão pensou: era isto que eu esperava ouvir da voz sábia, as palavras que esperava ouvir da boca do eremita. Sentia-se observado por um grande poder intuitivo e aguardou a orientação que o ajudaria a conduzir o seu futuro.
Sentia-se bem, sentia-se protegido - sentia-se o escolhido!
O caminhante balbuciou: a resposta que procuro estará aqui na palma da minha mão?
Sim, se os teus sonhos forem sonhos com a medida certa, respondeu o eremita e prosseguiu: no fundo de ti encontrarás talentos escondidos e habilidades não desenvolvidas que não usas; tu não utilizas as tuas forças para um pleno potencial, tu és uma pessoa muito talentosa e habilidosa - tens em ti um grande virtualismo, desenvolve-o. Empenha-te e aprende a valorizar-te mais, porque só assim serás reconhecido - tu és um potencial vencedor.
O caminhante, temeroso, questiona novamente: e o que devo fazer para recuperar sonhos esquecidos e oportunidades perdidas?
Ao que o eremita respondeu: leva um bolso cheio de boas energias (de pensamentos puros e escorreitos) para onde quer que vás, deixa que o vento te mostre o caminho certo - vê e aprende. E continuou: somente a subjectividade contempla, coordena e conhece as diversas facetas, emoções, sentimentos e pensamentos que compõem o indivíduo. Anda e vive, e em prudente caminhar, dá um passo de cada vez e sonha, aprende, falha, deseja, vai, chora, ri, faz, porque tudo pode acontecer - o fim é importante para todas as coisas -, segue a estrada e sê ditoso, tem orgulho em ti. Confia e acredita no teu potencial - só quem tem esperança consegue alcançar e vencer as barreiras que bloqueiam. Segue em frente como um observador atento a tudo o que te envolve, valoriza só o que é importante para a tua vida e não dês atenção a palavras vãs e mesquinhas, porque elas não merecem estar presentes no pensamento do homem de voz bondosa e coração puro. Sê grato à vida e a tudo o que te rodeia, lembra-te que tudo depende do teu esforço, força de vontade, trabalho e dedicação. Trabalha naquilo que queres e desenvolve o teu dom, não queiras ter tudo de graça, mesmo que tenhas nascido em berço de ouro, cresce por ti e aprende a conhecer-te porque só assim atingirás um grau elevado de sabedoria (maturidade). Honra o teu nome e o nome dos teus, sê leal para com a família e amigos. Sê bom, alegre e genuíno e tudo se fará por si só - tudo alcançarás.
Que orientação prodigiosa, pensou o caminhante.
E o anacoreta prosseguiu: só quem domina a arte de pensar, aprende a escolher o caminho para amar-se a si próprio e ao próximo. Não basta querer algo, é preciso ser ousado para o conseguir. É importante saber aprofundar a verdade daquilo que somos, do que queremos para nós. Nada é impossível e no momento certo saberás fazer a escolha certa e assim verás concretizados os teus sonhos.
E a voz sábia continuou: há pessoas que velejam no crepúsculo, tu velejas no dilúculo e estando aqui sentado, isso pode não te parecer muito importante, mas é, se tentares pôr-te de pé perceberás que o teu equilíbrio vem todo daqui - da tua cabeça.
O eremita, cofiou as suas barbas, levantou-se, saudou o caminhante com um aceno de cabeça e calmamente entrou na gruta, o seu ermitério.
O caminhante, ergueu-se e inclinou-se respeitosamente, olhou o horizonte e espraiando a vista pelo frondoso vale contíguo quedou-se recolhido, apreciando a paisagem e os ensinamentos que lhe tinham sido transmitidos.

Edite Pinheiro
Setembro, 21 / 2013

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