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terça-feira, 19 de novembro de 2013

TODOS OS ANOS


Todos os anos
Festejo feliz
O dia
Do meu aniversário

Todos os anos
Feita aprendiz
Sigo o guião
Do meu fadário

Todos os anos
Mais uma vez
Me vejo a saltar
As coisas chatas

Todos os anos
Jogo xadrez
Desejo criar
Novas etapas

Todos os anos
Novo voo ensaio
Abro meus braços
Mas o voo não surge

Todos os anos
Sigo os passos do aio
Deslindo meus laços
Espero o que urge

Neste aniversário
Senti a simplicidade
Da vida
Neste aniversário
Senti a felicidade
Da família unida

Neste aniversário
Não estive só
Senti-me!
Mulher, mãe e avó.

Edite Pinheiro
Novembro, 19 / 2011

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

ODE À CASTANHA

 
 Chega o outono
 Chega a castanha
 Dádiva dos deuses
 Em capa embrulhada
 De picos protegida
 Por ninguém é tocada
 Por todos é colhida
 
 Chega o outono
 Chega a castanha
 Trabalhosa no colher
 Veste camisa e casaco
 Sem remendo nem buraco
 Sozinha ou acompanhada
 Por todos é deleitada
 
 Chega o outono
 Chega a castanha
 Que na pobreza
 Quando batatas não havia
 Ou faltava o pão na mesa
 A míngua mitigava
 Para todos era certeza
 
 Chega o outono
 Chega a castanha
 Consumida com agrado
 Crua, cozida ou assada
 Ou ao fumo pilada
 Os bilhós são de quem ganha
 Na tradição que acompanha
 
 Chega o outono
 Chega a castanha
 Surge o dia folgazão
 Casa-se castanha e vinho
 Em alegre animação
 Cora a gente na fogueira
 Foliona e galhofeira
 
 Chega o outono
 Chega a castanha
 Uma semente que surge
 No interior do ouriço
 Agressivo mas castiço
 O fruto do castanheiro
 Que é muito curandeiro
 
 Diz o povo e com razão:
“Mais vale um castanheiro do que um saco com dinheiro”
 
Edite Pinheiro
Novembro, 12 / 2012

LENDA DE S. MARTINHO


Numa fria tarde de Outono
seguia Martinho a cavalo
por entre forte vendaval,
a sua rubra capa o cobria,
protegia-o do temporal.
Cavalgando montes e vales
o dever de soldado cumpria,
indiferente ao tempo invernal.

Numa curva do caminho
um trémulo mendigo sofria,
ao frio, sequioso e faminto
alguma esmola pedia.
Apelou compadecido
ao coração do soldado,
que de ternura e bondade
a compaixão comovia.

Da capa cortada ao meio,
a golpes da fiel espada,
parte ao mendigo entregou.
Com tanta generosidade,
o céu que tudo observa
deste gesto se agradou
e um milagre aconteceu,
parou de chover, o sol brilhou.

De cavaleiro romano
fiel ao dever de soldado,
ímpio na solidariedade,
rigoroso e cumpridor,
com este gesto de bondade
e de solidária compaixão,
volveu apóstolo da cristandade,
símbolo de toda a generosidade.

Edite Pinheiro
Novembro, 11 / 2011

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

SIBILADOS


Neste local maravilhoso que é o nosso mundo, continuamos a cultivar a apatia como sendo uma virtude:
- assobiamos para o lado quando somos confrontados com a problemática das drogas;
- assobiamos para o lado quando somos confrontados com o proliferar do alcoolismo;
- assobiamos para o lado quando somos confrontados com a realidade dos assaltos;
- assobiamos para o lado quando somos confrontados com a violência doméstica;
- assobiamos para o lado quando somos confrontados com a violência gratuita;
- assobiamos para o lado quando somos confrontados com a presença dos sem-abrigo;
- assobiamos para o lado quando somos confrontados com a degradação e a miséria;
- assobiamos para o lado quando somos confrontados com a desertificação do interior;
- assobiamos para o lado quando somos confrontados com o fenómeno da emigração;
- assobiamos para o lado quando somos confrontados com o egoísmo e a hipocrisia;
- assobiamos para o lado quando somos confrontados com a falta de respeito pelo próximo;
- assobiamos para o lado quando somos confrontados com a falta de respeito pela família;
- assobiamos para o lado quando somos confrontados com faltas de educação e respeito;
- assobiamos para o lado quando somos confrontados com o desprezo para com os idosos;
- assobiamos para o lado quando somos confrontados com atitudes de prepotência;
- assobiamos para o lado quando somos confrontados com a falta de ética e moral;
- assobiamos para o lado quando somos confrontados com atitudes racistas;
- assobiamos para o lado quando somos confrontados com a falta de cultura;
- assobiamos para o lado quando somos confrontados com absentismo escolar;
- assobiamos para o lado quando somos confrontados com a ignorância do óbvio.

Por isso:
- não consigo continuar a suportar um sítio onde as pessoas estão cada vez mais egocêntricas;
- não consigo continuar a suportar um sítio onde as pessoas se preocupam mais com a vida dos outros do que com a sua própria;
- não consigo continuar a suportar um sítio onde o palco da vida é feito de ingratidão e de egoísmo;
- não consigo continuar a suportar um sítio onde os valores e as tradições estão a ser colocadas de parte;
- não consigo continuar a suportar um sítio onde se dá mais valor ao luxo e ao supérfluo;
- não consigo continuar a viver num sítio que aceita e cultiva a apatia como sendo uma virtude.

Em que é que as pessoas se estão a transformar? Preciso saber?
Já que este mundo, este lugar maravilhoso, merece que lutemos por ele!

Edite Pinheiro
Outubro, 10 / 2013

Foto de Francisco Oliveira

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Pensamento - 65


“Atenta a neblina que pode esconder o que os próprios deuses não ousam olhar.”

Edite Pinheiro
Dezembro, 27 / 2012

Foto:Nevoeiro” - Marek Grumou

domingo, 29 de setembro de 2013

Pensamento - 14


“O mundo está à beira de um abismo.
Neste tempo singular - há que salvar -, há que ter consciência da realidade.”

Edite Pinheiro
Março, 01 / 2013

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Em busca da Felicidade


Quando consegues algo de muito valioso, algo que almejaste e sonhaste, que procuraste para ti, algo muito desejado há tempo demais (por saberes ser bom em coisas que nunca conseguiste atingir, coisas sem resultado algum, apesar da coragem e força de vontade, numa fuga constante, numa desilusão permanente de ti mesmo - sentes-te perturbado quando finalmente consegues, quando finalmente és reconhecido pelo teu valor e desempenho, pela tua candura e beleza de alma), um sonho, um objectivo, uma meta que estipulaste e que meteste na cabeça, pela qual irias empenhar-te e esforçar-te, pela qual irias vencer e ser o melhor, um desígnio resultante de um trabalho árduo e muita dedicação e ainda mesmo de um esforço brutal, quase impossível de aguentar devido às adversidades, ao desgaste físico e psíquico, sem uma desistência em momentos nefastos - motivos que dedilhaste até à demência -, sentes uma sensação de bem-estar (quando te dizem que fizeste um trabalho fantástico de notável epílogo e te dão os parabéns por tal êxito) - és feliz!

Quando consegues em ti, a certeza do que podes vir a ser e sentes que conseguiste o que tanto desejavas, a vontade que apertou e sufocou o teu Ser durante décadas mal dormidas e assombradas pelo medo e pela ignorância, que te cercava, dos que não acreditavam em ti - és feliz!

Quando apenas tu acreditaste nas tuas capacidades e na missão e no fardo que carregaste, apenas tu permaneceste na esperança de um dia tocares a estrela, apenas tu permaneceste na esperança de ouvir a tua voz interior, de seres sempre tu, de amares e seres amado tal e qual como és, de fazeres o teu trabalho de acordo com a tua consciência, de dares sempre o teu melhor - porque aprendeste a terminar o teu trabalho rapidamente, porque aprendeste a ver, a ouvir e sobretudo aprendeste a pensar - és feliz!

(Sentes que rompeste pelo olho da tempestade e que por instantes, tiveste uma ausência de pensamentos e de peso e, a seguir, caíste num funil de onde foste enviado para uma subida vertical, tendo ficado na borda do assento, caíste no fundo de ti mesmo e sentiste que não tinhas hipótese de te safares. De repente, num sobressalto, sobes à tona das águas salgadas, vertidas pelos teus olhos vermelhuscos e soltas um suspiro interior, um sucumbir de emoções, e saltas, desnorteado, para fora do poço a espargir comoções, como num sonho agitado. Sentes o vento a afagar os teus ouvidos e a tua face pálida e respiras - vens a ti.  
Respiras os aromas da vitória merecida e, de olhos bem abertos, acolhes a Felicidade, esse estado de riqueza interior que é sentires dentro das tuas entranhas o coração a bater mais forte do que nunca, um carrossel de emoções em rodopio contínuo, um sentir tão profundo que os olhos derramam lágrimas e choras, e ris de alegria, num estado, não intencional, de uma intensidade que não consegues descrever - apenas consegues sentir o que desencadeou esses sentimentos e emoções -, e queres saborear a vitória com o teu eu interior, e bates as palmas a ti mesmo, e saltas, e pulas no teu silêncio manifestando regozijo e orgulho - e amas-te!)

Este é, um estado enaltecido de felicidade, desencadeado pelo elogio e aplauso de outras pessoas, que viram em ti: modéstia, humildade, fé, lealdade, dedicação, genuinidade, coragem e empenho, enfim, um grande valor humano.

Edite Pinheiro
Setembro, 27 / 2013

domingo, 22 de setembro de 2013

O eremita e o caminhante


O caminhante, imbuído de temor e respeito, aproximou-se e aguardou que o sábio voltasse do seu passeio matinal. Como um cristal devolvendo ao sol o brilho que cega, tudo à sua volta ficou cristalino e calmo, quando o eremita regressou.
O anacoreta, saudou-o com um ligeiro abanar de cabeça, afagou os seus longos cabelos e sentou-se pausadamente num tronco seco, caído, que servia de anteparo à entrada da gruta.
Quebra-se o silêncio, quando sopra a brisa do vento por entre os ramos de folhas enverdecidas das árvores do vergel e surge o som das palavras da voz sábia: palavras proeminentes do conselho obrigatório que proclamam a autonomia e a liberdade.
- Caminhante, o teu silêncio é inquietante; precisas tranquilizar a criança que há e vive em ti. E prossegue: necessitas aproveitar as oportunidades que estão perdidas ou esquecidas e que surgem agora novamente no teu caminho - oportunidades que são cruciais para a tua vida, para o teu futuro. Resgata-as já! Desperta e lembra-te que o futuro é urgente e é agora.
O caminhante baixou o semblante e de olhar fixo no chão pensou: era isto que eu esperava ouvir da voz sábia, as palavras que esperava ouvir da boca do eremita. Sentia-se observado por um grande poder intuitivo e aguardou a orientação que o ajudaria a conduzir o seu futuro.
Sentia-se bem, sentia-se protegido - sentia-se o escolhido!
O caminhante balbuciou: a resposta que procuro estará aqui na palma da minha mão?
Sim, se os teus sonhos forem sonhos com a medida certa, respondeu o eremita e prosseguiu: no fundo de ti encontrarás talentos escondidos e habilidades não desenvolvidas que não usas; tu não utilizas as tuas forças para um pleno potencial, tu és uma pessoa muito talentosa e habilidosa - tens em ti um grande virtualismo, desenvolve-o. Empenha-te e aprende a valorizar-te mais, porque só assim serás reconhecido - tu és um potencial vencedor.
O caminhante, temeroso, questiona novamente: e o que devo fazer para recuperar sonhos esquecidos e oportunidades perdidas?
Ao que o eremita respondeu: leva um bolso cheio de boas energias (de pensamentos puros e escorreitos) para onde quer que vás, deixa que o vento te mostre o caminho certo - vê e aprende. E continuou: somente a subjectividade contempla, coordena e conhece as diversas facetas, emoções, sentimentos e pensamentos que compõem o indivíduo. Anda e vive, e em prudente caminhar, dá um passo de cada vez e sonha, aprende, falha, deseja, vai, chora, ri, faz, porque tudo pode acontecer - o fim é importante para todas as coisas -, segue a estrada e sê ditoso, tem orgulho em ti. Confia e acredita no teu potencial - só quem tem esperança consegue alcançar e vencer as barreiras que bloqueiam. Segue em frente como um observador atento a tudo o que te envolve, valoriza só o que é importante para a tua vida e não dês atenção a palavras vãs e mesquinhas, porque elas não merecem estar presentes no pensamento do homem de voz bondosa e coração puro. Sê grato à vida e a tudo o que te rodeia, lembra-te que tudo depende do teu esforço, força de vontade, trabalho e dedicação. Trabalha naquilo que queres e desenvolve o teu dom, não queiras ter tudo de graça, mesmo que tenhas nascido em berço de ouro, cresce por ti e aprende a conhecer-te porque só assim atingirás um grau elevado de sabedoria (maturidade). Honra o teu nome e o nome dos teus, sê leal para com a família e amigos. Sê bom, alegre e genuíno e tudo se fará por si só - tudo alcançarás.
Que orientação prodigiosa, pensou o caminhante.
E o anacoreta prosseguiu: só quem domina a arte de pensar, aprende a escolher o caminho para amar-se a si próprio e ao próximo. Não basta querer algo, é preciso ser ousado para o conseguir. É importante saber aprofundar a verdade daquilo que somos, do que queremos para nós. Nada é impossível e no momento certo saberás fazer a escolha certa e assim verás concretizados os teus sonhos.
E a voz sábia continuou: há pessoas que velejam no crepúsculo, tu velejas no dilúculo e estando aqui sentado, isso pode não te parecer muito importante, mas é, se tentares pôr-te de pé perceberás que o teu equilíbrio vem todo daqui - da tua cabeça.
O eremita, cofiou as suas barbas, levantou-se, saudou o caminhante com um aceno de cabeça e calmamente entrou na gruta, o seu ermitério.
O caminhante, ergueu-se e inclinou-se respeitosamente, olhou o horizonte e espraiando a vista pelo frondoso vale contíguo quedou-se recolhido, apreciando a paisagem e os ensinamentos que lhe tinham sido transmitidos.

Edite Pinheiro
Setembro, 21 / 2013

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Analogia


Serão as artes da política mais sedutoras do que as artes do amor?
- Não! Elas são análogas em maleáveis significações temporais desde que o ser humano adquire a sua figura (faces e contornos) povoada por sentidos e valores cujo estigma é a historicidade.

Tomemos como exemplo: a elegantíssima perna da mulher. É a metáfora perfeita para a política portuguesa em que o défice é a origem de toda a inquietude.

Rumando a norte, vindo dos oceanos, encontramos o “Reino dos Algarves”.
Tomamos o gosto ao dedo do pé (na Ponta de Sagres - Cabo de São Vicente) e seguindo para oriente navegamos ao longo da sensual planta do pé até encontrarmos o calcanhar (Vila Real de Santo António) e um pouco acima o primoroso tornozelo (na margem direita da bacia do Guadiana).
A sensualidade e o exotismo da barriga da perna (Alentejo) sugerem-nos e sugestionam-nos memoráveis sensações. A oeste a canela transporta-nos até à elevação do joelho (Cabo da Roca - que Camões descreveu como o local “Onde a terra acaba e o mar começa”) onde os estímulos geram prazer. A partir daqui encontramos um campo de sensações e áreas mais sensíveis. Entre as ancas (a Serra da Malcata de um lado e a Serra da Lousã do outro) invadimos a privacidade da mulher (Montes Hermínios e o misticismo do Vale do Zêzere) e procuramos a comunhão com a derradeira realidade.

Feminilidade, sensualidade e fertilidade carregam segredos pertinentes à natureza, à sexualidade e aos sentimentos e tal como na política perspectivam a utilização de uma relação estratégica como fonte de prazer.
As artes da política tal como as artes do amor são resultado de um jogo estratégico.

Edite Pinheiro
Setembro, 18 / 2013

domingo, 28 de julho de 2013

Excerto Do Poema: Fé no futuro


Nos teus braços, mãe, enlaçados na minha cintura,
encontrei a coragem que precisei e o amparo
para a minha caminhada neste palco da vida.
A meu lado, hoje, os meus seres mais queridos
continuam a ser os esteios da minha jornada.
Tenho fé no futuro!

Excerto Do Poema: Fé no futuro

Edite Pinheiro
Julho, 27 / 2013

segunda-feira, 8 de julho de 2013

O guião que não escrevi



Histórias e mais histórias…
Toda a nossa vida gira à volta de histórias:
histórias que ouvimos; que lemos; que vivemos; que vemos e sonhamos.
Somos movidos pelas histórias que nos inspiram, emocionam e impressionam.
Histórias que sentimos (e nos fazem sonhar). Histórias que fazem as pessoas mais felizes
e nos dão o sentido dos sentidos em que acreditamos - o sentido que a vida tem.
As histórias são, na sua imaterialidade, a forma concreta de percebermos e sentirmos a matéria de que são feitos os sonhos (a forma de que é feito esse sonho principal que é a nossa vida, a nossa existência - o nosso corpo e o nosso tempo).

Perdi o meu dom e a torneira do imaginário secou - dela não sai pingo algum. O órgão da minha imaginação esgotou - dele não vem mais nada, nada mais sai - o meu castelo ruiu.
Será que o meu dom voltará e as palavras voltarão a correr como um rio?
Será que só quem tem alma concebe a ideia de vazio que busca a alma gémea?
Dantes eu era dotado no sentido das palavras. Nesse sentir criava um expressivo amor - amor que derruba impérios, constrói nações, une corações.
Já não sei o que é o amor - não o sinto -, nem sei escrever sobre ele.
Oh Deus (se é que existes) devolve-me o meu dom.
Promessas, palavras, juras para quê?
Se porventura não escrevi uma palavra não deixo de inventar histórias na minha cabeça - prosa que sairá logo que a minha musa me inspire (sonho-te nos meus sonhos, musa).

Emerges da noite como uma deusa, musa dos meus sonhos - consigo ver-te nos contornos da tua sombra. Sinto-te em cada passo, em cada eco, que chega até mim.
Segues na direção do homem, ali de rabo sentado a pasmar, que contempla o mediterrânio de águas negras - águas do tom da noite -, e que se esforça para que na sua mente elas voltem a ser águas azuis, como um dia as sonhou na juventude. Árdua tarefa que dói - e como dói -, dor profunda cravada no corpo e na alma (fragmentos, do nada que herdou, do vazio que ficou).
E os pensamentos sangram, mas ele esforça-se por recordar o azul que um dia sonhou na juventude.
Sentes o universo inteiro a contemplar-se por si só?  
Emerges da noite como uma deusa, musa dos meus sonhos - consigo ver-te nos contornos da tua sombra. Sinto-te em cada passo, em cada eco, que chega até mim.
Vens serena e calma como uma deusa, musa dos meus sonhos - a figura que emerge da escuridão agarra a rosto do homem e beija-o - beija-o com veemência.
Roubas um beijo, depois outro e mais outro - as bocas unem-se com ardor e paixão.
E (com aquele gesto), ele sente-se vivo, inspirado para escrever novamente. Algo surge: profundo, muito profundo; sentidamente profundo (e iluminam-se os passos e os silêncios) iluminando as ideias e os gestos - os tempos.

O sonho ganha asas durante alguns momentos, quando decide dar-lhe vida (e ele sentado no escuro fica abstrato a imaginar-se uma estrela a brilhar). O sonho volta a ganhar vida - por momentos
sente-se inteiro como homem do mundo.

Tudo o que fizeres faz bem feito - não o faças só por ser bonito aos olhos do mundo.
Valoriza todo o interior de uma questão - não dês tanto valor à capa.

Gostava de estar aqui, de estar ali, de estar em todo o lado ao mesmo tempo e em lugar nenhum. Agora deparo-me com este problema, especialmente quando o meu corpo está quase a chegar aos cinquenta e a minha mente insiste em estar perto dos dez.
Já não me aguento de pé, nem consigo dormir e não quero acordar amanhã de manhã no fundo de um poço - estou fechado aqui neste lugar sombrio de calor infernal. Mas sou só eu
e tão só como sempre o fui. Sei que tudo tem o seu tempo, tudo tem o seu momento e que nada é por acaso, que no dia e na hora certa tudo pode acontecer, tudo pode mudar.
Mas já não sou novo e ainda não sou velho. Mas quero ser sensato - ser arrojado nas minhas decisões -, e ajoelho-me: inclino a cabeça, levanto as mãos e rezo para ser apenas eu - rezo e deixo que a música dentro da minha alma transborde e toque as estrelas e galáxias e que estas dancem e cantem para mim.
Quero sair deste frio infinito e dar-me o meu destino - sermo-nos por inteiro (ser um só eu em mim para viajar comigo, e formar um dueto para cantar comigo próprio e de subir e de descer livremente por todo o lado, por todos os lugares). Ser o eu que está sempre a meu lado, que nunca me desilude - que nunca me abandona. Ser simplesmente eu, eu e só eu com o meu nome - o nome meu.   
Quero acordar com a melodia com que me deitei e a mesma esperança que carrego.
O eu e o eu que quero ser, e terminar no fim para começar de novo. (E, recomeçar outra vez e outra vez e todas as vezes que forem necessárias para ser jovem e para ser velho - o conto que descrevo é a luta que travo comigo mesmo). Mas quero ser sensato, ser arrojado nas minhas decisões e, ajoelho-me: inclino a cabeça, levanto as mãos e rezo para ser apenas eu - para que todo o universo observe o meu desígnio -, para que o universo olhe para mim (e, é tudo o que quero).

Agora peço-te humildemente que te levantes. Levante-te e anda, não estás morto.
Levanta-te imediatamente porque a vida é dor. É dor e vai moldar-te sempre.
Levanta-te e vive o momento e vive todos os momentos - para os recordares um dia. 

Gostava de estar aqui, de estar ali, de estar em todo o lado ao mesmo tempo e em lugar nenhum. Ocorreu-me pensar em ti. Ocorreu-me pensar no amor.
Sabes o que é o amor? Queres sabê-lo?
Se queres fazer uma mulher feliz, fá-lo com aquilo com que nasceste. Serve-te da seiva que te corre nas veias - é lá que encontras a tua essência do amor.
Arrisca tudo e tenta roubar um beijo ardente quando me abraçares - não me abraces apenas, abraça-me. Sê gentil, sentimental, avança e sê carinhoso - sê ousado e belisca-me com toda a ternura. Sê um cantor, sê um amante - colhe agora a flor antes que percas a oportunidade.
Consegues imaginar o amor puro de um homem e uma mulher quando se amam apaixonadamente?
- É algo leve e agitado - um turbilhão de sentimentos e emoções -, é quietude inquieta.  

Ainda não escrevi nada - só imaginei como seria esta aventura. Ainda não escrevi um guião. Penso e imagino muito. Não durmo. Estou a morrer, ou até agora, até tu chegares, estava a morrer. Mas tu vieste e eu já sorrio, fazes-me bem, fazes-me tanta falta - contigo as horas passam mais depressa. Contigo sou feliz!
Fica, não te vás embora. Dança comigo. Dança como se estivesse a viver uma espécie de sonho no qual as acções nem sempre são o que parecem. Dança comigo como se fosse a última vez. Ama-me!
Enlouqueço quando crio fantasias que vivo e partilho com quem me lê. Ofereço-as aos meus leitores. Pinto as palavras - pinto-as para ti meu amor.
Fico a imaginar o que terias vestido se te visse agora. Imagino como seria o teu corpo nu, sem nada, sem roupa alguma. Beijava os teus seios, os dedos dos pés - e tu, sopravas-me ao ouvido, rogavas para que te abraçasse bem forte, para me sentires junto de ti e beijavas-me a testa febril e os lábios carnudos. Beliscava-te as bochechas rosadas e sentiria o teu corpo a empolgar. Sentirias a pele a arrepiar - sensação delirante -, e eu continuo somente a imaginar.

Busco a felicidade - algo que ainda não encontrei. Nesta busca constante, procuro mas não encontro resposta alguma. Vivo com esta sensação de vazio e de desespero.
Será só fruto da minha imaginação ou a constactação de uma prenhe realidade que me envolve. Já vivi muito, vivi muita coisa e agora acho que percebi o que é preciso para ser feliz. Uma vida calma e isolada no campo, o descanso, a natureza, os livros, a música, a pintura, o amor pelo próximo. Essa é a minha ideia de felicidade. E depois, no topo de tudo isso, tu como companheira. Que mais pode o coração de um homem desejar?
Há muito tempo quando era outra pessoa - já fui outra pessoa quando ainda me amavas, quando estávamos apaixonados um pelo outro - fui feliz. Agora a paixão desapareceu, mas resta o amor que nos une como família que somos para toda vida - o amor e a lealdade para com a família é algo eterno.

Estás demasiado ocupado a inventar a tua própria vida. Criaste o teu próprio estilo, o teu próprio ponto de vista, bem definido nos gestos e nas atitudes que marcam a tua pessoa.
Preocupas-te tanto com o fato como com o homem que o usa - és o homem que há em ti,
és a essência do estilo como homem. O teu mundo é fascinante e aprecio a forma como o retratas. Adoro-te como um homem de estilo que és.

Como criaste o teu próprio estilo?
- Criei o meu estilo quando voltei a sonhar - quando acreditei em mim.

Edite Pinheiro
Julho, 07 / 2013

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Memórias de azul



Desamparado: exposto ao vento; ao frio;
à chuva; à neve e ao sol.
O ponto flutuante resiste às ondas
em constante mudança e transformação.

A maré; a maresia; as memórias;
envolventes abraços molhados - beijos gelados.
A vida agitada das gaivotas - canções de embalar.
O pôr-do-sol; os últimos raios de luz;
o rasto - o caminho engolido pela noite.

A escuridão desaparece…
… surgem os primeiros raios de luz.

Edite Pinheiro
Janeiro, 12 / 2009

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Início do Blogue: Lugar mítico


“Ontem vi o que tinha de fazer hoje - há um sonho que lentamente se está a tornar realidade.”

Edite Pinheiro
Junho, 30 / 2013