
Quando consegues algo de muito valioso, algo que
almejaste e sonhaste, que procuraste para ti, algo muito desejado há tempo
demais (por saberes ser bom em coisas que nunca conseguiste atingir, coisas sem
resultado algum, apesar da coragem e força de vontade, numa fuga constante, numa
desilusão permanente de ti mesmo - sentes-te perturbado quando finalmente
consegues, quando finalmente és reconhecido pelo teu valor e desempenho, pela
tua candura e beleza de alma), um sonho, um objectivo, uma meta que estipulaste
e que meteste na cabeça, pela qual irias empenhar-te e esforçar-te, pela qual
irias vencer e ser o melhor, um desígnio resultante de um trabalho árduo e muita
dedicação e ainda mesmo de um esforço brutal, quase impossível de aguentar
devido às adversidades, ao desgaste físico e psíquico, sem uma desistência em
momentos nefastos - motivos que dedilhaste até à demência -, sentes uma
sensação de bem-estar (quando te dizem que fizeste um trabalho fantástico de notável
epílogo e te dão os parabéns por tal êxito) - és feliz!
Quando consegues em ti, a certeza do que podes vir
a ser e sentes que conseguiste o que tanto desejavas, a vontade que apertou e
sufocou o teu Ser durante décadas mal dormidas e assombradas pelo medo e pela
ignorância, que te cercava, dos que não acreditavam em ti - és feliz!
Quando apenas tu acreditaste nas tuas capacidades e
na missão e no fardo que carregaste, apenas tu permaneceste na esperança de um
dia tocares a estrela, apenas tu permaneceste na esperança de ouvir a tua voz
interior, de seres sempre tu, de amares e seres amado tal e qual como és, de
fazeres o teu trabalho de acordo com a tua consciência, de dares sempre o teu
melhor - porque aprendeste a terminar o teu trabalho rapidamente, porque aprendeste
a ver, a ouvir e sobretudo aprendeste a pensar - és feliz!
(Sentes que rompeste pelo olho da tempestade e que
por instantes, tiveste uma ausência de pensamentos e de peso e, a seguir,
caíste num funil de onde foste enviado para uma subida vertical, tendo ficado
na borda do assento, caíste no fundo de ti mesmo e sentiste que não tinhas
hipótese de te safares. De repente, num sobressalto, sobes à tona das águas
salgadas, vertidas pelos teus olhos vermelhuscos e soltas um suspiro interior,
um sucumbir de emoções, e saltas, desnorteado, para fora do poço a espargir comoções,
como num sonho agitado. Sentes o vento a afagar os teus ouvidos e a tua face
pálida e respiras - vens a ti.
Respiras os aromas da vitória merecida e, de olhos
bem abertos, acolhes a Felicidade, esse estado de riqueza interior que é
sentires dentro das tuas entranhas o coração a bater mais forte do que nunca,
um carrossel de emoções em rodopio contínuo, um sentir tão profundo que os
olhos derramam lágrimas e choras, e ris de alegria, num estado, não intencional,
de uma intensidade que não consegues descrever - apenas consegues sentir o que
desencadeou esses sentimentos e emoções -, e queres saborear a vitória com o
teu eu interior, e bates as palmas a ti mesmo, e saltas, e pulas no teu
silêncio manifestando regozijo e orgulho - e amas-te!)
Este é, um estado enaltecido de felicidade,
desencadeado pelo elogio e aplauso de outras pessoas, que viram em ti:
modéstia, humildade, fé, lealdade, dedicação, genuinidade, coragem e empenho,
enfim, um grande valor humano.
Edite Pinheiro
Setembro, 27 / 2013